Estava atrasada como sempre…chegou em casa correndo…largou a bolsa e pegou a mochila com o material da faculdade…tomou um gole de café…precisava espantar o sono…afinal estava de pé desde as 5 da manhã e só voltaria para casa as 23h…e bateu a porta do pequeno apartamento.
Desceu os quatro jogos de escadas as pressas…chegou no térreo bufando…e maldizendo tantos degraus…já tinha pedido ao síndico que desse um jeito no elevador…mas aquele velho gordo só queria saber de entupir suas artérias de gordura e guardar o dinheiro debaixo do colchão…pensou…”um dia invado aquele apartamento fedido e roubo todo dinheiro”…mas eram apenas delírios de uma mente extremamente cansada. Então resolveu…”no fim do semestre procuro um novo apartamento…mais perto do campus e com menos escadas”.
Foi andando a passos largos até chegar ao ponto…sabia que se fosse devagar perderia o ônibus das 19:40…e a essa altura já tinha perdido as duas primeiras aulas…e eram duas importantes aulas que ela tem pouco conseguido assistir por causa do trabalho…e decidiu; “vou conversar com meu chefe…preciso trocar de horário…desse jeito sempre perderei o semestre”.
Ainda pensativa despertou com o som da buzina do ônibus…que sorte que o motorista de hoje era seu velho amigo…senão perderia a condução e mais uma vez teria que voltar para casa…sorte mesmo.
No caminho para a faculdade enquanto estava no ônibus e via as ruas passando por seus olhos…fez-se pensativa novamente…tinha pelo menos uns 20 minutos de pensamentos soltos até ter que descer no ponto do campus…a aula seria da professora Helena…Métodos de Pesquisa…até que a aula era boa apesar da matéria ser um porre…mas dava para levar porque a professora sempre trazia coisas novas…animando as aulas…assim ela não iria durmir como fazia na maioria das vezes.
Ainda no ônibus…lembrou do dia que chegou à cidade…era tudo tão novo que no início sentiu medo…a princípio iria para uma República de estudantes…mas como seus pais demoraram para liberar a grana…ela perdeu a vaga…teve que alugar um apartamento e começar a trabalhar. Foram dias estranhos e difíceis…uma estranha na cidade…vinda do interior…sem ter onde durmir…sem muito dinheiro…tendo que se virar logo pois não poderia durmir na rua. Por sorte conheceu Marina no dia da matrícula e ela foi bem legal oferecendo seu quarto na República enquanto ia visitar seus pais…assim teve uma semana para procurar emprego e um lugar para morar…com a pressa de se alojar…pegou uma porcaria de apartamento…e uma droga de emprego…mas já tinha decidido que do próximo ano não passaria…e iria trocar de emprego e de AP.
“Próxima parada CAMPUS DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE “…Ana??? Ana Luíza??? Chegamos menina…
Ana despertou de seus pensamentos e desceu correndo as escadas do ônibus…estava de frente para o campus…entrou afobada…correndo pelos largos corredores…abriu a porta da sala todos a olharam e riram…ela pensou: “bando de filhinhos de papai…se tivessem que trabalhar o morassem onde moro…não iriam rir de mim”. Sentou-se e tentou…jura que tentou prestar atenção nas aulas…mas não conseguiu…nem na hora do intervalo conseguia prestar atenção nas conversas ao seu redor…todos chamavam “Ana?”…mas ela não escutava…seus pensamentos…seu olhar…estavam perdidos em alguma direção que ela não conseguia entender…apenas estava longe…e se sentia muito estranha naquele dia.
As aulas acabaram…todos comentando sobre as novas lições…todos desesperados com os projetos e artigos que teriam que fazer…todos não…Ana estava ausente de tudo…saíram um poiuco mais cedo eram 22:15…chegaria em casa mais cedo…poderia durmir mais 10 minutos…só pensava nisso…quando foi cortada por Bernardo…que oferecia carona…mas ela recusou…sabia que essas caronas sempre iam acabar em bares…e hoje ela só queria cama…nada de badalação…então foi para a parada do ônibus e ficou esperando.
Esperou 5, 10, 15 minutos e nada de chegar o maldito ônibus…tinha perdido os tão sonhados 10 minutos a mais de sono…e a essa altura já havia se arrependido de não ter aceitado a carona que Bernardo tinha oferecido. Sem muito o que fazer…e querendo logo chegar em casa…doida por um banho e um bom sanduíche…resolveu andar em direção à Avenida e pegaria o primeiro ônibus que passasse…ficar lá sozinha é que não dava…o campus estava fechado e logo as luzes seriam apagadas. No caminho indignada, só pensava como aquele dia tinha sido ruim…era o tipo de dia que não se deveria sair da cama de forma alguma…mas ela saiu…estava ali sozinha…e pela primeira vez em 3 anos na cidade…sentiu medo…sentia que a seguiam.
Apressou-se…andou mais rápido…mas percebeu que assim como ela alguém andava tão rápido quanto…parava…olhava para trás…nada via…continuava…”graças à Deus…já vejo a Avenida…nunca gostei tanto do barulho ensurdecedor dos carros…logo chegarei…logo estarei no ponto…relaxa Ana…se acalme…logo você estará em sua caminha…e esse será apenas um dia ruim”.
Equanto andava e pensava não percebeu a sombra se aproximando…e faltando poucos metros para sair da Unversidade…quase no portão principal…a sombra parou em sua frente. Gelou…sentiu como se tivesse caído no Oceano Atlântico…não conseguia se mexer nem gritar…seus músculos estavam travados…seus sentidos cortados…só ouvia o seu coração acelerando a cada segundo…como se fosse explodir.
Piscou…uma…duas…três…vezes…e quando percebeu que poderia falar…tentou berrar…mas o som de suas cordas vocais saíam baixinho…como um sussuro…pensou em tantas coisas ao mesmo tempo que não conseguia manter sua mente sã…”vou ser assaltada…vou ser violentada…vou morrer…” Berrava por dentro…era o que conseguia…derrepente ouviu alguns cães latindo…parecia que o som estava perto…e cada vez se aproximava mais…tentou mover os olhos para o lado…viu quando os cachorros se aproximaram…e com eles um senhor com uma espingarda muito antiga…e pensou “o que ele pensa que conseguirá com essa arma enferrujada…no mínimo esse bandido está armado com uma pistola”…quando voltou seu olhar…viu que a sombra havia sumido…ele deve ter se assustado com o senhor e seus cães…deve ser esse tipo de bandido que faz maldade com todos…mas quando se vêem diante de uns cãezinhos…se pelam de medo…”bandido de merda”…pensou ela…agora toda corajosa…mas no fundo o que ela sentia era alívio por estar viva…e aos poucos sua paralisia foi passando…agradeceu ao senhor pela ajuda…contou o que estava prestes a acontecer…e quando já estava indo embora…ouviu um conselho do bom velho…”moça…não ande por aqui sozinha de noite…as ruas do campus são muito escuras e escondem criaturas que até o diabo tem medo.” Ela agradeceu a preocupação…disse que teria mais cuidado…mas por dentro estava caindo em gargalhadas do velho louco…”como assim criaturas que até o diabo tem medo??? Coitadinho…está delirando.”
Pegou o ônibus eram mais de meia noite…chegou em casa exausta…tomou banho…e deitou-se…o sanduíche ficou para o dia seguinte…aquele dia tinha sido uma merda…e a noite no mínimo estranha…queria esquecer e só esquecer…amanhã seria outro dia. Pegou no sono.
CONTINUA…