O Encontro (parte final)

Olhei em seu olhos e vi a fome…Fome de vida, fome de conhecimento…Fome de ser vivo…Ele olhos em meu olhos e viu o medo…O medo da morte…O medo da descoberta…do novo…Então, juntamos a fome com o medo…E nos tornamos um só…Ele meu mestre…E eu sua seguidora.”  (V.P.S)

 

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   Passaram-se 3 meses…era um típico dia de inverno…meados de julho…férias…enfim…um descanso merecido depois de um período conturbado na faculdade…ainda não tinha conseguido dar um jeito com o apartamento e o emprego…mas Ana havia prometido que dessas férias não passava…até já tinha marcado alguns apartamentos nos classificados…mas não tinha tido tempo de ir vê-los…quem sabe na próxima semana.

   Pensativa como sempre…olhava pela janela do escritório…mais uma vez faria hora exta contra sua vontade…se não precisasse tanto do dinheiro já tinha chutado o balde e de preferência na cabeça do seu chefe. Mas como não era essa a situação…ficou até mais tarde…rsua noite realmente seria muito interessante no meio de relatórios e mais relatórios. Não aguentava mais a tela do computador…entretando com tantos cálculos para fazer e analisar não saíria de lá antes das oito horas…e como isso a incomodava…ela sempre detestou matemática…era péssima com contas na escola…e na faculdade os únicos números que interessavam à ela  eram os anos e séculos em que a História havia acontecido.

   História…essa sim era sua paixão…ela tinha verdadeiro fascínio pelas figuras históricas e mesmo aquelas que nem eram tão conhecidas assim…para ela tinham suma importância…e foi por essa paixão de criança que ela aceitou o desafio de deixar sua família e vir para a cidade grande…seu maior sonho era se tornar Historiadora e viajar o mundo em busca de novos artefatos que revelassem à humanidade os mais variados caminhos da nossa Sociadade…mas até lá teria um longo caminho pela frente e a faculdade e todos seus custos era o principal deles e para isso precisava do emprego…Parou de sonhar acordada…e foi terminar os relatórios.

   Já eram mais de oito da noite quando o último empregado deixou o escritório…e ela ainda estava lá…com aquele bando de números…estava exausta…sua mente já não pensava com clareza…tinha tomada tanto café para se manter acordada que se sentia dopada por cafeína…olhou para o relógio e nele marcava 21:30…olhou para a sala escura e se sentiu sozinha…sentiu medo…medo de que fosse assim para sempre…medo de não ter ninguém ao seu lado no fim de sua vida…aliás…se Ana Luíza tinha um medo…era esse…o da solidão…com tanta coisa para fazer no trabalho…com tanta coisa para estudar e pesquisar na faculdade…não tinha tempo de badalações…não tinha tempo de namorar…realmente sua vida social e amorosa ia muito mal…OBRIGADA! Até tentou engatar um namoro com um carinha do terceiro período de Direito..mas ele era muito filhinho de papai…daqueles que só fazem o curso para agaradar a família…e para ela estudo era muito sério…com tantas diferenças o romance não durou 3 meses…e naquela época decidiu dedicar-se aos estudos e só se reaproximar de alguém que realmente valesse a pena. Mas nesse dia…ali…sozinha naquela sala escura…cercada de relatórios estúpidos…teve medo…medo de que sua vida fosse somente um monte de papel…fossem eles da secretária Ana Luíza…ou da Doutora Historiadora Ana Luíza…pensou “o que estou fazendo comigo? o que estou fazendo da minha vida?” E então num impulso adolescente…largou todo aquele trabalho…pegou o celular e ligou para Mariana…tinha certeza que o pessoal estaria em algum barzinho legal…bebendo e ouvindo música…e era justamente disso que ela precisava nesse momento…estar perto de amigos. E como ela havia imaginado…eles estavam reunidos em um bar perto do trabalho dela…não pensou duas vezes…combinou com Mariana…deu certeza que iria…arrumou sua bolsa…pegou seu casaco…desligou as luzes…e deixou toda aquela pertubação para o dia seguinte.

   Desceu pelas escadas de serviço…tinha medo de elevador…ainda mais estando sozinha…não gostava nem de imaginar ficar presa sozinha em um daqueles elevadores enferrujados…só de pensar sentia arrepios…então foi pela escada mesmo…não tinha medo do escuro…isso era o de menos…mas naquela noite…sentiu um arrepio estranho…não era um arrepio normal daqueles das noites de inverno…era tão forte e intenso que fez com que ela terminasse a escada descendo de dois em dois degraus.

   Já no saguão e aliviada…se despediu do vigia noturno…e saiu…a rua estava deserta…aquele bairro não era mesmo muito movimentado à noite…vestiu o casaco pois fazia muito frio…e foi andando em direção ao bar que ficava a três quarteirões…era relativamente perto…e seria uma boa caminhada…daria para ajustar seus pensamentos que ultimamente andavam muito conturbados. Como uma boa noite de inverno a chuva fina começou a cair…estava intensa e muito fria…mas como seu guarda-chuva estava dentro da bolsa…ficou com preguiça e resolveu apertar o passo…em alguns minutos estaria no bar…não se molharia tanto assim.

   Ana andava rápido…estava mesmo sentindo frio…e a chuva parecia estar aumentando…de repente aquela chuva fina se transformou em temporal…e do nada surgiram raios e trovões…estava em frente ao Museu de História Nacional…quando viu a marquise e resolveu se abrigar…a luz da rua apagou…entrou em desespero…nunca tinha sentido tanto medo em sua vida…tentou pegar o celular e ligar para Mariana…mas não o encontrou…o vento começou a soprar forte…e de tão forte dava a sensação de ser um lobo uivando…sentiu aquele frio na espinha…daquele que paralisa qualquer um.

   Tentou entrar no Museu…não conseguiu…bateu na porta…mas o vigia nem a escutou…quando se virou lá estava ele…parado…alto…com longos cabelos negros…olhando para ela…mas seu rosto ainda era uma incógnita…tentou se mexer…gritar…correr…mas não conseguia…lembrou-se do dia no Campus da Universidade…quando foi salva por um senhor e seus cães vigias…na ocasião só tinha visto a sombra…não sabia se era o mesmo homem…só sabia que a sensação era a mesma…aterrorizante…e ao mesmo tempo envolvente.

   O homem se aproximou bem devagar…parecia que queria mesmo deixá-la com medo…quis gritar não conseguiu…quis correr mas seus pés e pernas não obedeciam…de repente se sentia como uma estátua viva…apenas seus olhos movimentavam-se…seu coração acelerado…sua respiração ofegante…já não sentia frio…seu corpo todo estava em chamas…o suor escorria como água da bica…e cada vez mais perto ele estava.

   Ergueu o olhar quando ele já estava a sua frente…e viu o homem mais belo de toda sua vida…sua pele era alva…seu cabelo ainda mais negro…seu olhar penetrante e azul como o mar…e o sorriso dele…era o fascínio final. Ele a tocou no ombro…respirou bem perto de seu pescoço…e sussurou uma pergunta…enfeitaçada pelo doce hálito…sua resposta foi exatamente o que ele queria ouvir…o convite estava feito…e o homem havia aceitado. Num piscar de olhos a envolveu em seu sobretudo e desapareceu na noite como que por passe de mágica.

   Procuraram por Ana durante meses…até que ela foi dada por desaparecida…sua família fez um funeral simbólico no dia em que ela desapareceu…ao voltarem para casa encontraram por debaixo da porta um bilhete com os dizeres:

O destino é uma caixa de surpresas…cada um tem o seu…mas muitos ainda podem escolher….a escolha foi feita…talvez precipitada…num momento de êxtase…mas essa foi a escolha…o nascer do Sol não será mais o mesmo…mas uma coisa é certa…deixei de estudar a História…para viver a História…e aqui sou Eterna”

   FIM!!!

Escrito por Vanessa Paz Santos S. Paiva

Published in: on 6 de outubro de 2008 at 05:00  Comments (13)