O sapato

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Pés cansados de tanto caminhar, já não há mais o que festejar.

Os sapatos apertam a alma e sufocam o coração, fico então descalça, me liberto de tudo que prendia-me a um tempo que eu era sem SER.

Agora, sentada olhando o horizonte, os pelos ouriçados, o cabelo desgrenhado, o coração acelerado, sinto que tudo está prestes a mudar, sinto medo, sinto frio, sinto a revolução dentro de mim, ameaçando explodir.

O vento sussurra em meus ouvidos, uma canção de alento, parece me dizer que tudo vai ficar bem, mas desconfiada que sou, não mais me permito sonhar com UM FINAL FELIZ.

Minha mente flutua, enquanto o tempo vai fechando e o cheiro de chuva é tão forte e presente que de olhos fechados posso visualizar as gostas caindo, mesmo estando a quilômetros de distância, sinto as gotas tocarem meu corpo, e fico ali, estática, esperando a chuva que nem sei se vai chegar.

O sapato ao lado, me lembra que ainda estou aqui, que preciso tomar uma decisão, que não posso mais fugir do destino e que não é certo deixar a tempestade cair sobre aqueles que amo, e então decido…sentada aqui diante do horizonte cinza que vou seguir em frente.

Levanto-me lentamente, absorvo o ar gelado pela última vez, despeço-me do horizonte cinza e vou na direção daquilo que acredito ser o meu caminho.

O sapato? Esse ficou para trás, junto com tudo que me prendia ao passado.

Vanessa Paiva – 17/10/12

Published in: on 17 de outubro de 2012 at 05:27  Comments (3)