Entre contos… (III)

 

diario1

 

(I)

É noite…

Na catedral…doze horas…

Sinto o cheiro da neblina…e sinto o frio da escuridão…

De repente a mão por entre meus ombros…

Corro…como nunca corri…

Fujo…mas nem sei de quem fugir…

Paro…olho…e nada vejo…

Cheiro de neblina….frio da escuridão…

Uma mão…um arrepio…um abraço…

E assim se inicia o meu fim.

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(II)

Olhei nos seus olhos e vi a fome…

Fome de vida…fome de conhecimento…

Fome de ser vivo…

Ele olhou em meus olhos e viu o medo…

O medo da morte…

O medo da descoberta….do novo…

Então…juntamos a fome com o medo…

E nos tornamos um só…

Ele meu mestre

E eu sua seguidora….

£££££     £££££     £££££

(III)

 

Faz algum tempo que percebo esse rapaz…

Faz algum tempo que ele me segue…

Faz algum tempo que ele me chama a atenção…

Mas não sei pq ele não se aproxima…

Não sei pq eu não me aproximo…

Parece que nos conhecemos há anos…

Mas tenho as vezes a sensação que não…

Ele tem um ar sereno…mas ao mesmo tempo ameaçador…

Terei de ter coragem…para perguntar para ele…

Mas sinto que ele quer se afastar…algo o impede…

Ele tem o olhar vago…e penetrante….

Parece querer dizer “vá embora”…parece querer me alertar…

Não ligo para esses sinais…me aproximo….

Mais do que deveria…mais do que podia…

Ele tenta sair…eu não deixo….

Então ele faz o que deve ser feito…

Ele tentou me avisar…eu não quis escutar seu olhar…

Ele tentou ir embora…eu não quis deixar…

Ele foi gentil…

Mas hoje não posso mais ver o sol…

E fui eu quem escolhi.

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((Escritos em agosto/2006 – por Vanessa Paiva))

Published in: on 22 de abril de 2009 at 04:01  Comments (11)  

Entre contos…(II)

Encontros!!!

“Estranho como tudo na vida se dá por encontros e desencontros.

E isso vem desde o nosso primeiro encontro na vida…que é com nossa mãe ao nascermos.

E daí por diante milhares de encontros se sucederão e tantos outros desencontros surgirão.

Encontramos um amor e achamos ser para sempre…daí surge o tal desencontro…desencontro de ideias…de ideais…de sentidos…de sentimentos.

Encontramos grandes amigos…mas que nem sempre estarão por aqui (ou por ai)…um baita desencontro em nossas vidas…e tudo parece sem muito sentido.

Encontramos a carreira perfeita…uma boa vida profissional…mas nem sempre nos completa e nos realiza…e mais um desencontro.

É…vida bandida…que nos dá e nos tira…faz encontrar e perder…ora vindo…ora indo. E como ficamos nisso tudo?

Bem…fica como você quiser…

Eu posso simplesmente sentar no meu sofá e chorar as mágoas da vida…e de tudo que planejei e deu errado…posso me sentir uma vítima e posar como tal…posso condenar meu destino e renegar novos encontros. Sim…posso ser esse ser de vida lastimada…um ser sem perspectiva.

 Mas NÃO QUERO SER ASSIM…não me sentarei no sofá…não me assumirei como vítima de uma circunstância…viverei cada dia…e não irei condenar meu destino. Cada encontro…ou desencontro…nos deixa uma lição…cada pessoa nos ensina um pouco mais…e não irei abrir mão disso…a VIDA é uma grande coletânea…e pretendo sempre absorver tudo que estiver escrito em suas linhas.”

 

((=> Pessoas perdoem a minha falta de coerência em determinados textos…mas as vezes sinto essa necessidade…e apenas quero escrever…deixando com que as palavras e ideias surjam sem muito compromisso…afinal…isso aqui é apenas um blog…rs.))

 

Beijos para todos…e até breve!

Published in: on 20 de abril de 2009 at 05:40  Comments (4)  

A Noiva (II)

“Ciranda…cirandinha…vamos todos cirandar…vamos dar a meia volta..volta e meia vamos dar…O anel que tu me deste era vidro e se quebrou…o amor que tu me tinhas…era pouco e se acabou.”

 

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     Estava incomodada…sabia que existia algo além…não foi um assalto como todos pensavam ou fingiam pensar…essa história estava fétida…o que queriam encobrir?…A quem queriam acobertar? Não sossegaria enquanto não descobrisse.

      Uma semana após o enterro ainda estava na cidade…para não levantar suspeitas…deu a desculpa de estar matando a saudade e relembrando os bons momentos de infância. Todos acreditaram.  Ou pelo menos quase todos.

     Túlio sempre foi muito esperto…cresceu junto com as meninas…sabia exatamente o que Carmem estava fazendo esse tempo todo na cidade…sabia que ela não estava convencida da desculpa do assalto. Ele mesmo não estava. Cidade pequena…sem ladrões de galinhas e derrepente eis que surge um assaltante/assassino e mata justamente a filha do maior empresário da região. Muito estranho mesmo.

     Passou a seguir Carmem. E a moça não parava. Andava de um lado a outro…perguntava daqui…indagava dali…sempre com sutileza…sempre muito educada. Túlio conhecia esse jeito impulsivo mas ao mesmo tempo comedido…Carmem sabia onde ir…com quem falar…mas sem deixar pistas do que estava fazendo. E sempre foi assim…desde jovens…nunca havia se esquecido dela. Sorriso faceiro…olhos amendoados…cabelo liso e comprido…as vezes tentava se esconder por trás de um boné…mas sua beleza reluzia…mesmo quando ela não queria.

      Mas se tinha uma coisa que Carmem era ainda mais astuta…era descobrir quando estava sendo seguida…e Túlio foi descoberto. Depois de uma rápida discussão…Carmem sabia que ele não iria deixá-la  investigar sozinha…e Túlio por sua vez,  sabia que ela não iria desistir enquanto não soubesse da verdade. Fizeram um pacto e reuniram todas as provas. O rapaz já estava um passo a frente…andou investigando desde antes de ela voltar para a cidade. Tinham vastas anotações…muitas hipóteses…pistas…mas nada concreto.

     Horas depois de terem começado a analisar as anotações…surgiram as possíveis especulações…mas exaustos de tanto pensar e analisar…com fome…resolveram dar uma parada e saíram para comer algo. No caminho entre o Hotel e o restaurante perceberam que estavam sendo seguidos…apertaram os passos…mas nada além do que alguns passos mais acelerados para não deixar a impressão de que sabiam que eram vigiados. Sorte o restaurante estar ainda aberto.

     Pedem bife com batata frita e refrigerante…ensaiam uma conversa descontraída…mas sempre olhando para fora…buscando reconhecer o perseguidor…mas a essa altura a penumbra da noite avançada…quase madrugada…não permite uma visão mais detalhada…além disso o espertinho tinha parado quase que num beco da rua em frente…onde a iluminação era ainda mais escassa. Carmem se sentiu estranhamente incomodada…via-se dentro dos romances policiais que tanto gostava de ler…e por isso sabia que tudo aquilo poderia terminar muito mal. Olhou para Túlio como quem pede ajuda…ela está mesmo com medo. O rapaz percebera sua apreensão e segurou em sua mão como se estivesse dizendo…CALMA VAI FICAR TUDO BEM…a moça percebe o carinho e se sente mais confortada. Nada de palavras…nada de diálogos longos…uma conversa no inicio e muitos olhares depois.

     Mas ainda tinha esse cara estranho lá fora…precisavam dar um jeito nele…despistar ele de alguma forma. O restaurante estava para fechar…cadeiras e mesas vazias…apenas o dono e a faxineira limpando o salão…e eles…Carmem e Túlio não podiam mais adiar…então foi quando tiveram a ideia. Sairam do restaurante juntos…mas Carmem voltou…pois tinha esquecido a bolsa…que cabelça a dela…Túlio então começou a andar mais a frente com passos curtos, mas acelerados, na tentativa de fazer com que o estranho o seguisse…e deu certo…Carmem então saiu do restaurante…com sua bolsa e um spray de pimenta a tira colo…nesses tempos em que mocinhas são os alvos preferidos de assaltantes…ela sempre tinha um a mão. Apertou os passos entrou pela rua lateral…pois mais a frente sabia que daria de cara com o perseguidor na Avenida Principal. Ao sair no ponto exato onde estaria entre Túlio e o sujeito viu seu amigo no chão…e sentiu uma forte pancada na cabeça…tudo ficou preto…seu corpo pesado…sente o chão duro e frio.

     Carmem despertou…estava amarrada por cordas e amordaçada…não tinha vendas…mas nem precisava…a sala…ou quarto…ou galpão…estava na mais profunda escuridão…de imediato ao abrir os olhos não enxergou nada…então entrou em desespero…se sacudiu com o intuito de tentar movimentar a cadeira…tentava falar para chamar por Túlio…mas só saiam sussurros…derrepente ouviu do outro lado da sala um outro sussurro…seria Túlio? Resolveu se acalmar…precisava se manter no controle…esperou…sabia que depois de algum tempo…sua visão se acostumaria com a falta de luz e logo poderia ver o ambiente um pouco melhor. E foi exatamente o que aconteceu…e logo Carmem pode identificar seu amigo…amarrado e amordaçado da mesma forma que ela…ele também estava acordado. Pensou…pensou…pensou…mas nada…nenhuma ideia surgia em sua cabeça…estavam fritos.

     Depois de algumas horas…um homem entra na saleta…Carmem sabia que era homem por causa do sapato…a essa altura sua visão poderia ser confundida com a de um felino…estava bem acostumada e enxergava tudo ao seu redor perfeitamente…mas o homem parecia saber desse artifício e entrou encapuzado. Carmem ficou estramamente irritada…ainda mais quando o suspeito começou a falar…tentou identificar sua voz…mas parecia que o carinha usava um aparelho para distrocer o seu tom vocal. Pensou consigo mesma…que a cidade realmente havia crescido…os bandidos já usavam aparelhos sofisticados…uma modernidade só…foi ai que a ficha caiu…e Carmem se viu numa trama ainda mais perigosa do que imaginava estar. Sentiu um aperto no coração por ter colocado Túlio nessa enrascada…se algo acontecesse à ele…não se perdoaria jamais.

     Enquanto o bandido…falava…tentava identificar algo que pudesse ser uma pista…foi ai que ouviu o nome de seus pais…ficou horrorizada…ele estava os ameaçando…se ela não fosse embora da cidade…se continuasse a meter o bedelho onde não fora chamada…poderia se considerar uma órfã…e Túlio teria o mesmo fim. Carmem sentiu seu corpo tremer…o sangre congelar…não podia raciocinar…só imaginava seus pais e Túlio mortos. Raiva…muita raiva…um ódio indescritível tomou conta dela…e começou a se balançar na cadeira…até que tombou no chão. O homem se aproximou dela…falou mais uma meia dúzia de palavras ameaçadoras…e levantou sua cadeira…foi nesse momento que Carmem sentiu o cheiro…conhecia aquele perfume…de onde era? De onde era?  Alguns instantes depois…outro cheiro…só que esse mais forte…penetrou em seu olfato…APAGOU.

     O sol forte batendo em seu rosto…fez com que acordasse…ela e Túlio haviam sido deixados num dos bancos do Jardim Principal da cidade…olhou-se para ter a certeza que estava tudo bem…olhou seu amigo…e estava tudo bem…ou quase…acordou o rapaz…os dois se abraçaram…foram andando em direção ao Hotel…no caminho Carmem só pensava no perfume…ele ficou empregnado em seu nariz…sabia que já tinha sentido esse cheiro antes. Mas de onde? Foi ai que surgiu uma luz no fim do túnel. O plano estava armado.

 

>>>CONTINUA.

 

(Ouvindo: God Put a Smile Upon Your Face – Coldplay)

 

    

Published in: on 11 de abril de 2009 at 16:13  Comments (1)  

Entre contos…

“No meio de um e outro sempre há algo indefinido.

Não temos como saber a exatidão das coisas…

Só sabemos que elas existem e muitas vezes só conseguimos sentir ou imaginar…

Mas mesmo sem essa certeza…seguimos atrás do nosso meio.

E a dúvida nos impulsiona em ir atrás do que é nosso por meio…ou por mérito.”

 

(É…sem sentido…mas tá valendo…rs.)

 

Bjos para quem é de bjos…abraços para quem é de abraços…FUIIIIIIII.

Published in: on 7 de abril de 2009 at 01:31  Comments (9)  

A noiva. (I)

“Ah! O vento batento em seu rosto mais uma vez, como nos velhos tempos, quando ainda era uma menina.”

     O carro parou em frente ao imenso portão, agora mais enferrujado e desbotado, lembrou-se das vezes que pulara esse mesmo portão e correndo dos cães, chegava na porta principal toda suja de areia, com o vestido rasgado, sorrindo para o mordomo e entrava na enorme mansão. As lembranças eram tão reais, que mal continha o sorriso. Quantas aventuras, quantas gargalhadas, quantas descidas pelo corrimão, e tudo sempre junto dela. Sempre com ela.

     O sorriso se fechou, as lembranças foram sumindo, os olhos escureceram, a lágrima correu.

     O portão se abriu, barulhento como anos atrás, mas não haviam cães, nem jardim, nem pássaros, o cenário era bem diferente do que um dia teria sido seu castelo de sonhos, estava tudo tão vazio, tudo tão triste, sombrio. Foi caminhando em direção a porta, estavam quase todos, mas ela era a mais aguardada, afinal era a melhor amiga de Elizabeth, sua confidente, não existiam segredos entre elas, e mesmo depois de anos sem se ver, falavam sempre que podiam ao telefone e por cartas.

     No grande salão encontrou pessoas que não via há muito tempo, foi embora da cidade quando, seu pai caiu em falência e submetido aos caprichos de uma vida antes gloriosa, agora pobre, não conseguia olhar para os outros com o mesmo ar de soberania e resolveram ir para outra cidade. Faziam exatos 15 anos. Nesse período pensou em voltar algumas vezes, mas sua vida tomou um rumo diferente, a faculdade, o trabalho, tomavam todo seu tempo, mas havia prometido que viria para o casamento de Elizabeth, pois seria uma das madrinhas.

     Mas, o destino se fez impiedoso, e lá estava ela de volta a cidade que cresceu, muito antes do tempo que previa, e não para ser madrinha. Sua amiga, irmã de alma, companheira de aventuras, a única pessoa a quem devotava enorme amor e carinho, estava ali naquela sala, linda como sempre, pele alva, cabelos castanhos lembrando pequenos caracóis, mas imóvel. Quem teria sido o monstro?

    Ao se aproximar do caixão, sentiu faltar o chão, o coração acelerar, o ar pesando em seus pulmões, e derramou-se em lágrimas, um choro inesperado e compulsivo, doloroso, silencioso. Quem teria sido o monstro?

    Elizabeth se casaria daqui um mês, tinha 29 anos, não merecia isso, sempre tão bondosa, querida por todos, mesmo quando pequenas, sabiam que as traquinagens eram suas idéias, Elizabeth apenas se divertia, mas sempre respeitando os moradores da cidade e até dava broncas em Dafne quando achava que a brincadeira era séria demais.

     Morta! Há um mês do casamento. Morta! Quem teria sido o monstro?

Published in: on 7 de abril de 2009 at 00:45  Comments (3)