O Pagamento (Parte 3)

E quando você acha que foi mais esperto que o destino, ele se mostra ainda mais implacável.”

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          Cinco anos se passaram. Lorem era a modelo mais requisitada do mundo da moda. Já não mais trabalhava para uma agência e sim para todas, ou para aquela que pagasse melhor. Seu rosto estava em todos os outdoor do mundo, era a garota propaganda das campanhas milionárias, era a queridinha dos japoneses, a rainha dos europeus, a filha da América. Seu nome estava vinculado a perfumes, roupas, acessórios, maquiagem. As mais jovens queriam ser ela. Estava no auge, estava no TOPO…ela era a TOP.

          Não havia mais resquícios daquela jovem de 19 anos que estava perdida em seus próprios desejos e sonhos, hoje ela era um conceituada modelo que tinha tudo que almejara na sua vida profissional. Por outro lado, sua vida emocional era um fiasco, não conseguia e nem queria se envolver com ninguém, o medo do que isso poderia acarretar a impedia de seguir em frente com qualquer relacionamento. Havia muita coisa em jogo. Uma vida inteira.

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          Do outro lado do mundo, sentada em uma montanha que homem algum conseguiria escalar, Briel estava irritada.

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          Era a festa de lançamento de uma marca de perfumes que levava seu nome. Lorem estava irradiante. Era puro êxtase. O vestido roxo costas nua e em decote V valorizava o corpo, evidenciando a cor branca da pele deixando a mostra o colo, os cabelos presos um pouco acima da nuca marcava a expressão angelical e os olhos naquela noite estavam azuis escuros como o crepúsculo.

          Não havia um homem naquele maldito lugar que não a desejasse, mas ela não desejava ninguém, até que ele surgiu. O homem de terno preto se aproximou oferecendo uma taça de vinho que ela aceitou, ele era lindo, alto na medida certa, tinha os cabelos curtos e castanhos, os olhos eram escuros, tinha o queixo másculo do tipo homem com h maiúsculo e mesmo escondido por baixo daquela vestimenta o corpo era forte e musculoso. Lorem e o tal desconhecido passaram a noite dançando e sorrindo e dançando e se beijando e dançando e foram para a suíte. Não sentia que era dona de seus atos, e não era. Ao mesmo tempo sentia-se livre, queria aquilo, sentia necessidade de ser daquele homem, queria que ele também fosse dela, entregou-se de corpo e alma ao que ela sabia ser a noite mais alucinante de toda sua vida. E foi entre gemidos e sussurros que ela percebeu que aquela noite jamais seria esquecida.

          Acordou de súbito no dia seguinte, tinha tido um pesadelo que deixaria qualquer filme de Sexta-feira 13 no chinelo, estava nua na cama gigantesca, estava sozinha. Desorientada, tentou lembrar o que tinha acontecido…e ela se lembrou, e quando lembrou…

          … ela chorou!

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No alto daquele mesmo prédio, alguém abria o seu melhor e maior sorriso de satisfação!

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          Os meses foram passando, já eram 3 desde o lançamento da marca de perfumes e Lorem estava tensa, parecia que tudo estava bem, mas no fundo ela sabia que não estava. E foi na noite mais importante da sua vida, quando iria ser a estrela do desfile de uma grife importantíssima, que seu mundo começou a desabar. Enquanto pisava na passarela, sentiu-se tonta, muito tonta seu coração queimava e então, não sentiu mais nada…

          …ela havia desmaiado.

          Quando os olhos de Lorem se fecharam logo após o desmaio, os de Briel se abriram com a aquela tonalidade de vermelho em chamas…

          …Lorem não sabia ainda, mas ela estava grávida!

E Briel sentiu a vida pulsar novamente.

despindo

Published in: on 28 de fevereiro de 2013 at 18:38  Comments (7)  

O Pagamento (parte 2)

 

“Cuidado com os pedidos, eles podem ser atendidos.”

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     O cortiço estava silencioso, aquele lugar a deixava enojada, eram pessoas humildes , pobres, analfabetas, definitivamente ela não pertencia àquele mundo, não, ela não era daquele lugar, ela merecia coisa melhor, sabia disso, sentia isso, queria isso.

 

     Depois de um banho demorado, escolheu sua melhor roupa, usou seu melhor perfume, passou seu melhor batom e não esqueceu do sapato vermelho sangue, salto agulha, definitivamente ela queria chamar atenção, queria todos os olhares nela, precisava massagear seu ego.

 

     E então Lorem saiu, sem destino. Caminhou por alguns quarteirões até que viu o letreiro da boate anunciando uma banda cover do Within Tempatition e lembrou-se das vezes em que ouvia essa mesma banda enquanto seu namorado corria pela estrada da pequena cidade em que morava com o capô do carro aberto. O vento em seu rosto, a sensação de liberdade voltaram como um flash tanto na memória quanto no corpo…o arrepio foi inevitável e quando se deu conta, estava entrando na boate.

 

     O lugar era escuro como qualquer bar que toque rock gótico, ou como queiram chamar, não estava lotado, mas também não estava vazio. Escolheu uma mesa em um lugar mais iluminado, queria ver as pessoas, mas mais do que isso, queria ser vista. E ela foi.

 

     Do outro lado, em outra mesa, uma ruiva de cabelos lisos e compridos a encarava. Lorem , sorriu para a ruiva e a mesma se aproximou. A mulher era alta, vestia uma saia de couro curta, um corpete roxo que deixava os seios ainda mais volumosos, e calçava uma bota de salto fino. Seu andar era lento e sedutor, parecia que o corpo dançava uma música que só ela escutava, e a cada passo que a ruiva dava, Lorem sentia seu coração queimar.

 

     A ruiva pediu permissão para se sentar, Lorem autorizou.

 

     Briel era o nome da ruiva alta, e ela tinha uma proposta. E Lorem…bem, Lorem…aceitou.

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     Briel já estava acostumada com esse jogo de sedução, nunca chegava as vias de fato, mas sabia do seu poder de persuasão e com a jovem Lorem não seria diferente, a menina tinha potencial, só precisava da proposta certa. Lorem era orgulhosa e pretensiosa, não conhecia limites para alcançar o que queria, realmente não seria nada difícil. Sem que sua vítima percebesse ela a seguiu e sem ser notada sentou-se do outro lado do salão, ainda não era a hora de ser notada. Quando Lorem abriu a guarda, buscando algo que nem ela mesma sabia o que seria, Briel se aproveitou e a encarou e sorriu, quando o sorriso foi retribuído tinha certeza que conseguiria o que tinha vindo buscar.

 

     A proposta foi feita. A proposta foi aceita. Pronto, Lorem era dela!

 

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     Uma semana após o encontro com Briel, Lorem recebeu a ligação de uma agência de modelos. O book dela tinha sido analisado e um cliente tinha gostado da mistura de cores que era o visual de Lorem, branca, muito branca na pele, cabelos negros como a noite e olhos mistos entre o azul mais azul e o verde mais verde.

     E quando desligou o telefone, sentiu como se o seu coração estivesse derretendo.

     Briel do alto do prédio sentia o cheiro…e sorria!

 

 

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Published in: on 7 de fevereiro de 2013 at 16:33  Comments (6)  

O Pagamento (parte 1)

“Desejos descontrolados de uma alma sem perspectiva, são o alimento dos desejos de uma alma ambiciosa”

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     Do alto de um prédio, sentada com as pernas para fora da construção, Briel se concentrava de olhos fechados na busca pelo ser humano que fosse perfeito para seus planos. Já estava ficando cansada dessa busca apesar de ainda ter tempo, mas o que mais a incomodava era essa caçada infinita que já durava milênios.

     Há tempos atrás, Briel era considerada uma capitã forte e destemida. Nada a fazia temer. Sua fama de durona e cruel era conhecida por todos os quartéis e todas as castas, era temida até pelo mais forte dos fortes. Sua ambição era tão grande quanto sua fama, ela queria mais, queria ser mais, queria ser uma divindade, idolatrada por homens, anjos, deuses e semideuses, mas foi essa sua ambição descomunal a causa de sua queda . Tentada com o poder, ela se rebelou contra seus superiores, comandou uma das maiores batalhas entre castas. Traída por seus companheiros, foi abolida de sua casta, destituída de seu posto, renegada por todos os seus semelhantes e condenada a vagar entre os homens por toda a eternidade.

     Tendo que conviver com o que ela chamava de pequenez da criação, além da maldição milenar e eterna, Briel ainda precisava caçar de tempos em tempos, um ser humano que fosse capaz de lhe ofertar a alma e foi assim em completa concentração que ela sentiu o cheiro que sempre enchia seu coração (se é que tinha algum) de alegria. Briel então, abriu os olhos e o que antes era de um azul puro e limpo como o céu em um dia sem nuvem, hoje se mostrava como duas esferas em chamas.

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     Na avenida movimentada, Lorem caminhava derrotada, humilhada e com o coração cheio de ódio. Já era a quinta agência que lhe negava serviço, e isso estava ficando cansativo, precisava pagar suas contas que estavam acumulando desde que deixara o emprego de garçonete.

     Lorem chegou na cidade grande há mais ou menos três anos. Vinha de uma pequena cidade do interior onde a perspectiva de ser alguém era pouca ou nenhuma. Depois que concluiu os estudos, largou tudo, família, amigos, namorado e se aventurou na cidade iluminada que sempre via na TV. Sempre ouviu que era muito bonita, que tinha um tipo incomum. Era muito branca, seus cabelos eram negros e cacheados até a cintura e seus olhos eram uma mistura de azul com verde, que encantava qualquer um, fosse homem ou mulher. Ciente desse fascínio que causava nas pessoas, Lorem resolveu se aventurar na carreira de modelo, só não sabia que seria tão difícil. No começo não conseguia sequer fazer um book pois lhe faltava dinheiro e foi assim que arrumou o emprego de garçonete. Com o salário pagava suas contas e o aluguel do quarto de cortiço e as gorjetas ela guardava para poder ter enfim seu book. Foram dois anos de economia, com o dinheiro em mãos fez o book, largou o emprego e foi atrás das agências, mas nenhuma dava-lhe oportunidade.

     Mais uma porta fechada, mais uma tentativa falhara, mais um vez havia sido humilhada e por mais uma vez caminhava naquela avenida cheia de pessoas que estavam alheias ao seu sofrimento e desilusão.

     E foi nessa noite de céu limpo,  que Briel abriu os olhos em chamas e Lorem sentiu seu coração arder como em uma fogueira.

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Published in: on 6 de fevereiro de 2013 at 22:16  Comments (13)  

Certo, errado…

Quanto tempo é preciso para que a gente se dê conta do que está errado e do que está certo?

Passamos quase uma vida inteira na linha tênue entre certo e errado e ainda assim não sabemos se erramos ou acertamos.

O que é errado? O que é certo? Diga-me, como saber?

Hoje, parando para pensar sobre isso, tentei, juro que tentei encontrar tais respostas…e por mais que eu saiba que acertei muitas vezes, ainda me vejo como alguém que tem errado mais do que “deveria”. Relativo falar sobre isso, não? Talvez, mas você pode, ao terminar de ler esse post, pensar que a vida é baseada nisso…erros e acertos e provavelmente eu concordarei com você.

Não dá para em um piscar de olhos não se cometer erros, o ser humano é falho por natureza, mas usar essa “desculpa” como um movimento contrário e esperar que as coisas se acertem é no mínimo covardia. Admitir o erro é louvável, mas buscar o acerto diante desse erro é crescimento, é evolução! Mas e quando não temos consciência dos deslizes? 

Complicado DEMAIS!!! 

Amigos, os amigos são, talvez, o nosso termômetro de erros e acertos, mas quer saber onde você acertou e errou de verdade? Dê uma boa olhada na sua vida e dê uma atenção maior quando for tentar olhar o seu íntimo.

Encontro-me nesse processo de “revisão da vida”, as vezes gosto do que vejo, outras fico triste, pois o que mais sinto falta é daquilo que ainda nem tive a oportunidade de saber se VAI SER CERTO OU ERRADO!

Enfim, o que é certo e o que é errado? Acredite, não dá para saber, pois o seu certo pode ser o meu errado e vice-versa, na dúvida consulte o seu coração.

Boa Noite!

Vanessa Paiva – 04/02/13

 

 

Published in: on 4 de fevereiro de 2013 at 02:52  Comments (7)